“Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto; e assim serão meus discípulos”. (João 15.8, NVI)
Essa palavra de Jesus foi direcionada, num primeiro momento, aos seus discípulos, especialmente aos judeus. Os judeus estavam, de certa forma, familiarizados com essa alegoria, com esse tipo de comparação. A imagem da videira (arbusto/planta que produz uvas) lhes trazia algumas recordações. O próprio Deus havia descrito o povo judeu, a casa de Israel, como “videira do Senhor dos exércitos” (Isaías 5.7). Não qualquer espécie videira, mas sim, uma videira particular, oriunda de “semente pura” (Jr.2.21). O Criador atestou sua origem e qualidade iniciais: “Eu mesmo te plantei como videira excelente….” (Jr 2.21). Não havia dúvida quanto à sua qualidade inicial e procedência divinal.
Mas, infelizmente, a avaliação não parou por aí. O próprio Deus detectou que algo diferente havia acontecido. Com o passar do tempo, houve uma drástica mutação. A essência original havia sofrido profundas alterações. A videira, outrora considerada excelente, havia se tornado anormal, anômala, degenerada e reprovável. Através do Profeta Jeremias (Jr 2.21b), Deus chegou a declarar: “… como, pois, te tornaste para mim uma planta degenerada, como de videira brava”. Reforçando essa ideia, através do Profeta Isaias (5.1-7), Deus sobe o tom e afirma o quanto a videira, outrora aprazível, havia lhe decepcionado. E também ressalta o quanto deseja puni-la, motivado por sua decepção. A razão? Ela não mais produzia uvas adequadamente e, quando as produzia, seus frutos eram desagradáveis e impalatáveis.
Como se percebe, falar sobre “videira” a um grupo de judeus era garantia de tocar, profundamente, em suas memórias e corações. E esse era, sem dúvida, o objetivo de Jesus ao abordar esse tema com os seus discípulos. Jesus desejava fazê-los avaliar sua própria história e inspirá-los na construção de uma história porvir.
Aqui já é possível extrairmos uma importante lição: nada escapa do olhar criterioso e cuidadoso de Deus. Nenhuma pompa ou encenação resiste à sua poderosa avaliação. O Próprio Jesus afirmou: “… o meu Pai é o agricultor” (Jo 15.1). O Agricultor é o responsável pela supervisão. Por verificar e atestar se a condição real da videira é louvável ou não. A avaliação certeira e definitiva vem dEle.
Tal compreensão tem perfeita conexão com o que Deus afirma na carta apocalíptica às igrejas da Ásia, ao dizer, a todas elas: “… conheço as tuas obras” (Ap 2 e 3). À Igreja em Sardes, por exemplo, ele fez a dura constatação: “Conheço as tuas obras. Tens nome e fama de que vives, mas estás morta” (Ap 3.1). A avaliação de Deus é mais do que circunstancial. Ela é mais do que uma avaliação estética ou superficial. A avaliação de Deus contempla-nos integralmente, do início ao fim, em todas as dimensões, de maneira multifocal. Sim, Ele contempla as nossas motivações e os frutos que, efetivamente, produzimos; e contempla, também, os frutos que, em escancarado descumprimento à sua ordem, deixamos de produzir. Nada escapa ao olhar minucioso de Deus, o nosso “Agricultor”.
Outra importante lição emerge das palavras de Jesus. Ele destaca que o “Agricultor” (Jo 15.1), o “Senhor da Seara” (Lc 10.2), não se empolga com aparências. Ele não se “deixa levar” ou seduzir por folhagens verdes e exuberantes. Para Ele, o que realmente tem valor são os frutos que produzimos. Segundo o próprio Jesus, toda árvore que não produz bons frutos será cortada e lançada ao fogo (Mateus 7.19). Para Jesus, é contraproducente e injustificável uma vida cristã que não tem como um dos objetivos primordiais frutificar. Uma vida cristã estéril e infrutífera, de acordo com Jesus, se configura obsoleta e descartável (Jo 15.2, 6).
Valiosa lição também pode ser extraída da descrição feita por Jesus: “Eu sou a videira verdadeira” (Jo 15.1). Ele apresentou-se como Videira legítima, pura, original. Ele apresentou-se como uma videira exemplar. De características imitáveis. Sim, aos cristãos é imposto esse desafio: “aquele que afirma que permanece nEle, deve andar como Ele andou. (1 João 2.6). Que desafio! Não resta dúvida que o nosso Senhor Jesus nos deixou um legado e uma missão: Frutificar! Frutificar para que Ele, Deus, seja glorificado. O texto é muito claro: Deus é glorificado quando produzimos fruto, “muito fruto”. Por outro lado, não produzir frutos é decidir, voluntária e conscientemente, não glorificar a Deus através da própria vida e em sua própria geração.
Não fomos chamados para nos conformarmos com uma vida de esterilidade. Tampouco devemos nos contentar com uma vida cristã infrutífera. Não fomos designados para uma vida cristã meramente contemplativa e pautada pela acomodação. Em vez disso, Jesus nos escolheu e designou para irmos aonde ele mandar, e à medida em que formos, darmos fruto, cabendo-nos fazermos a nossa parte para que tais frutos permaneçam (Jo 15.16). Como bem lembrou a Missionária Analzira Nascimento (JMM), “devemos frutificar aonde fomos plantados por Deus”.
Não temos tempo a perder. O alerta de Jesus aos seus discípulos também atinge, de forma certeira, os nossos corações: “Vocês não dizem: ‘Daqui a quatro meses haverá a colheita’? Eu lhes digo: Abram os olhos e vejam os campos! Eles estão maduros para a colheita” (João 4.35). Que Deus nos dê sensibilidade para nos compadecermos pelas milhões de pessoas do nosso Estado que ainda vagueiam, desnorteadas e exaustas, como ovelhas que não tem pastor. Pessoas “[…] que não sabem nem distinguir a mão direita da esquerda […]” (Jonas 4.11). Pessoas que carecem, urgentemente, de um Senhor e Salvador.
Assim como a nação de Israel, também fomos, na concepção original do nosso Senhor, criados e escolhidos para uma importantíssima missão. Ele nos designou, dentre outras coisas, para darmos fruto. Para darmos muito fruto. Esse é o propósito do “Agricultor”, do “Senhor da Seara”. Qualquer tipo de vida cristã fora dessa perspectiva se tornará incompleta, anormal, insignificante e reprovável ante o olhar criterioso dAquele a quem haveremos de prestar contas (Hb 4.13; Rm 14.12). Só quem produz frutos dessa natureza, semelhantes aos produzidos por Jesus, pode se considerar um discípulo dEle (Jo 15.8b)
A saudosa poetisa batista, Myrtes Matias, deixou-nos um importante encorajamento e uma grande inspiração, ao afirmar: “Se te dispões, Cristo salvará o mundo através de ti”. Não temos tempo a perder. Milhões de pessoas que vivem no Distrito Federal, no Planalto Central, no Brasil e pelo mundo afora aguardam a nossa manifestação, como mensageiros da boa nova de Salvação que há, única e exclusivamente, em Cristo Jesus.
Que eu e você sejamos a resposta de Deus para a salvação e transformação da nossa geração. É tempo de frutificar e multiplicar discípulos intensa e intencionalmente, para a honra e glória do nosso Deus, e para a expansão do seu Reino nesta terra. E o cumprimento dessa missão deve começar em nossa própria “casa”, concentrando e unindo esforços para transformarmos significativamente o nosso contexto local. Que sejamos o facho de luz e esperança usado por Deus para iluminar e abençoar nossa terra. Como somos lembrados por nossa campanha de Missões Estaduais 2021, “Não temas, é tempo de agir”! É tempo de avançar por amor ao Planalto Central!
Pr. Francisco Helder Sousa Cardoso
Pastor Titular na Primeira Igreja Batista em Brazlândia-DF, Bacharel em Teologia (FATEBE-STBE) e em Direito (Faculdade Processus).